terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre Alteridade


Os seres humanos possuem em comum a capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, idiomas e dialetos, modos de conhecimento, instituições. Se há algo verdadeiramente natural, é a aptidão da espécie a variação cultural.
            Disso decorre a necessidade, na formação antropológica, daquilo que pode ser chamado de "estranhamento", a perplexidade pelo encontro das culturas que são distantes uma em relação a outra, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se tinha sobre si mesmo. Essa modificação receberá o nome de alteridade.
            Conceitua-se alteridade como a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. A existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro, se colocando no lugar do outro, e o outro no seu lugar. É exatamente, dessa alteração de papeis, que nasce a alteridade, como se o outro fosse você e você fosse o outro.
            A descoberta da alteridade é a de uma relação que nos permite deixar de identificar nosso pequeno pedaço de humanidade com ela toda, deixar de rejeitar aquilo que nos é estranho. Tende-se a imaginar que nossos comportamentos culturais, estão inscritos no ser social a que pertencemos, desde o nascimento do individuo, como algo natural a toda a humanidade, esquecendo, porém, a multiplicidade cultural. Atentando a isso, somos levados a romper com essa abordagem comum que opera sempre a naturalização do social, rompemos com o humanismo clássico com a sua identificação do sujeito com ele mesmo.
            O pensamento antropológico, considera que, assim como uma civilização  adulta deve aceitar que seus membros se tornem adultos, ela deve igualmente aceitar a diversidade das culturas, também adultas.
            Assim quando do contato dos membros das sociedades europeias com os outros povos possuidores de uma cultura rica e complexa, mas suficientemente diferente para causar o dito estranhamento, de início, questionou-se mesmo a humanidade desses povos. O europeu com sua cultura fechada e adulta, não compreendia línguas e costumes tão diferentes dos seus, mas os observadores da época começaram a comparar essas novas culturas com as suas e a perceber a diversidade.
            Dada então a compreensão de que suas condutas, hábitos e espaço social foram criados por eles mesmos e não eram atributos natos à toda a humanidade, começou-se a entender que o “selvagem” também possuía cultura e conhecimentos próprios, e que nenhuma ciência possuía como objeto de estudo o homem, mesmo a filosofia clássica sendo filosofia social, nunca se deu ao objetivo de pensar a diferença cultural desses povos.

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